Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 1245-2 | ||||
Resumo:A tuberculose é considerada uma doença reemergente e, recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) a classificou como doença zoonótica negligenciada. A tuberculose bovina é uma zoonose de evolução crônica e efeito debilitante, causada pelo Mycobacterium bovis, cujo hospedeiro primário é o bovino. Entretanto, diversas espécies de mamíferos são também susceptíveis ao bacilo bovino. O presente estudo tem como objetivo relatar um caso que ocorreu em 2022, de infecção por Mycobacterium bovis em um gato doméstico SRD, macho, castrado, com 2 anos de idade. O animal transitava por pequenas propriedades rurais produtoras de leite na serra gaúcha. O felino era negativo para o vírus da leucose felina (FeLV) e para o vírus da imunodeficiência felina (FIV). Apresentava diarreia e emagrecimento progressivo. Os linfonodos superficiais (axilar, cervical superficial, inguinais, submandibulares e poplíteos) estavam moderadamente aumentados. Ele foi submetido à laparotomia exploratória e biopsia do intestino delgado (ID) e linfonodo mesentérico (LFNM). O resultado da biopsia foi enterite e linfadenite granulomatosa/histiocítica difusa acentuada compatível com micobacteriose. O animal veio a óbito dois dias após a cirurgia e então foi realizada necropsia. Macroscopicamente o LFNM estava aumentado e ao corte apresentava massa branca homogênea. O ID apresentava parede difusamente espessada e nódulos endurecidos na serosa. Os rins estavam brancos e macios. Os pulmões apresentavam áreas claras entremeadas por áreas avermelhadas e os linfonodos traqueobrônquicos levemente aumentados. Na descrição microscópica observaram-se áreas de infiltrado inflamatório de macrófagos epitelioides e células gigantes multinucleadas de Langhans nos linfonodos, ID, baço, fígado, pulmões e rins. O exame histoquímico com Ziehl-Neelsen revelou, nestes órgãos, bacilos álcool-ácido resistentes no interior do citoplasma dos macrófagos epitelioides das células gigantes multinucleadas. O diagnóstico histopatológico foi de micobacteriose sistêmica. A partir das amostras coletadas na necropsia, foi feito também isolamento bacteriano para Mycobacterium sp. As colônias que cresceram no meio de cultura foram identificadas, através de PCR, como Mycobacterium bovis. No Brasil a ocorrência de tuberculose bovina em gatos é considerada rara. Provavelmente este fato esteja relacionado com a falta de diagnóstico nesses animais e pela subnotificação, pois a OMS relatou que em 2016, foram registrados no mundo cerca de 147.000 novos casos de tuberculose zoonótica, com 12.500 mortes humanas. É uma enfermidade primariamente respiratória, cuja transmissão se dá principalmente pela via aérea, mas também ocorre por meio da ingestão de alimentos contaminados. Cães e gatos que apresentam tuberculose ativa tornam-se portadores do bacilo podendo transmiti-lo a outros animais inclusive a humanos. Atenção especial deve ser dada a cães e gatos que habitam fazendas de gado leiteiro e que sejam alimentados com leite cru e carnes ou miúdos não cozidos. Portanto, são necessárias mais informações sobre a distribuição e prevalência da infecção em animais e humanos, a fim de se desenvolverem estudos epidemiológicos bem planejados que deem suporte para programas de controle eficientes. Esse desafio requer efetiva colaboração entre o sistema de saúde humano e animal tendo em vista a importância da saúde única. Palavras-chave: Gato doméstico, Tuberculose Bovina, Mycobacterium bovis, Zoonose, Saúde Única Agência de fomento:Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação |